Eu, Luiz Ernani – Naninho tinha 22 anos quando tudo aconteceu. Era um jovem sonhador, feliz com a vida e correndo atrás dos meus sonhos e sempre buscando a felicidade com muita luta e suor. Foi quando comecei a me sentir mal, minhas forças se esgotavam e tinha cada vez mais dificuldades em alcançar os meus objetivos.
No final do ano de 2005, um dos anos mais difíceis da minha vida, minhas forças já estavam quase no limite. Pedi pra sair na empresa onde trabalhava e decidi fazer uma viagem para o litoral com minhas últimas forças. Sempre tive um pensamento positivo e acreditei na vida, porém nunca tinha sentido nada daquilo antes e sabia que o pior poderia acontecer, então decidi antecipar a realização de um sonho, conhecer o mar.
Quando voltei para casa em janeiro de 2006 já estava praticamente sem forças, com o corpo inchado, principalmente pés, mãos e rosto, coceira nas pernas, cansaço, aceleração cardíaca, fortes câimbras, anêmico, a uréia saindo até pela boca dentre outros sintomas.
Foi quando fui ao médico e ele me explicou com detalhes a minha doença e disse as palavras mais impactantes que já escutei: “Você tem uma doença que não tem cura”. Tudo desabou. Para um jovem de 22 anos, com toda a vida e sonhos pela frente, escutar isso não foi fácil.
Eu já sabia que tinha uma doença nos rins, mas não sabia a tamanha gravidade da mesma. Descobri que tinha insuficiência renal crônica, os meus rins tiveram uma infecção quando era criança e que naquele momento as suas funções excretoras tinham sido totalmente prejudicadas, ou seja, os rins já não funcionavam mais.
Comecei a fazer hemodiálise um dia depois da conversa com o médico. No início não foi fácil, o corpo não estava acostumado com aquele tipo de tratamento e foi o período de maior sofrimento. Mas com uma família unida e maravilhosa como a minha eu sabia que ia conseguir superar todo o sofrimento.
É legal quando as pessoas realmente amam outra numa situação tão crítica assim reagem. Eu era o doente, mas era como se todas as pessoas da minha família estivessem também. Eu via no olhar, nas atitudes e expressões que eles sofriam comigo.
Mas com o apoio da minha família, amigos e companheiros de hemodiálise comecei a me sentir melhor, ainda mais quando o médico me apresentou um tratamento alternativo e que me dava uma qualidade de vida muito melhor que a hemodiálise, o transplante.
Essa palavra transplante e suas vantagens faziam meus olhos brilharem e enchia minha mente e coração de esperanças. E acho que isso contagiou todos os meus irmãos. Foi graças a essa esperança do transplante e uma qualidade de vida melhor que senti três grandes momentos de extraordinária felicidade na minha vida.
A primeira grande felicidade foi quando minha irmã Roberta, com uma linda atitude, decidiu por conta própria começar a fazer os exames para me doar um de seus rins. Mas não foi esse o grande momento de felicidade. Foi quando o médico, olhando os exames dela lhe disse que o sangue dela não era compatível com o meu.
Depois de escutar tudo que o médico tinha a dizer ela se virou e me olhou, com um olhar de decepção e os olhos cheios de lágrimas e não precisou dizer nada, estava tudo escrito no seu olhar. Aquele olhar foi uma das coisas mais emocionantes que já tinha sentido e encheu o meu coração de felicidade. A sua vontade em ajudar, sua iniciativa e a sua decepção me revelaram o que eu já sabia, mas não tinha sentido com tamanha intensidade, o seu amor.
A segunda grande felicidade foi quando os meus irmãos Ana Paula e Carlos Henrique fizeram os exames e o médico disse que os dois eram excelentes doadores e que ia dar um tempo para eles conversarem e decidirem quem iria me doar um rim.
Como a vontade dos dois em doar era tamanha, eles não conseguiram chegar a um consenso. E no dia da consulta, a cada explicação do médico, os dois ratificavam que queriam doar. Foi quando eu interrompi e decidi que a Ana Paula iria me doar.
Quando saímos da clínica meu irmão me parou e me perguntou por que eu não lhe escolhi para doar-me um rim. Eu lhe disse que ele trabalhava carregando peso, que eu estando doente, ele era o único homem saudável na família e a Ana Paula era mais tranquila e que desde o início eu sentia que seria ela que iria me doar.
Entendendo, mais mesmo assim ainda não aceitando a minha decisão, discutimos por alguns minutos e a cada palavra que ele me dizia, meu coração se enchia de felicidade, pois a sua vontade era de entrar novamente na clínica e dizer ao médico que ele seria o doador e iria me ajudar.
A terceira e maior felicidade não durou nem um minuto, mas foi de tamanha magnitude que estará gravado na minha memória e no meu coração para sempre.
Era fevereiro de 2008, estávamos eu e minha irmã Ana Paula no hospital um dia antes do transplante para nos internarmos. Na época o hospital estava tendo problemas com vagas de leitos, então não foi possível colocar eu e minha irmã no mesmo quarto.
Eu estava preocupado com ela pensado se estaria nervosa ou com medo. Então fui para lhe dar um abraço e passar um pouco da minha empolgação de poder ter uma qualidade de vida melhor e me deparei com o sorriso mais carregado de amor e coragem que já tinha recebido na minha vida.
O sorriso dela demonstrava toda a sua emoção com o momento. E quando lhe abracei eu senti tanta tranquilidade e confiança que tive a certeza que nada poderia dar errado e em breve eu teria minha vida de volta.
Graças a essas atitudes e demonstração de amor e coragem, hoje consigo ter forças para lutar pelos meus sonhos e objetivos. Aprendi muita coisa com minha doença, principalmente o lado humano e social. Com o amor de outras pessoas se consegue realizar coisas que pareciam impossíveis, milagres.
Aprendi que até mesmo nos momentos de maiores dificuldades e tribulações em nossas vidas, podemos encontrar a felicidade. Que são nesses momentos que surgem grandes oportunidades de se adquirir sabedoria e coragem para se tornar um grande ser humano.
Não importa o tamanho ou a complexidade do seu problema, procure enxergar as coisas boas que o seu problema oferece, agarre-as e debruce sobre elas, porque a vida sempre vale mais a pena.
Meus irmãos: Roberta, Eu, Ana Paula e Carlos Henrique